Podcast, uMode, moda, tecnologia: Como ler tendências e escalar rápido no varejo de moda

Podcast, uMode, moda, tecnologia: Como ler tendências e escalar rápido no varejo de moda

August 22, 202511 min read

Neste episódio do podcast, umode, moda, tecnologia eu compartilho a minha trajetória, aprendizados e provocacoes sobre como marcas, varejistas e fornecedores podem ler tendências, operar com velocidade e escalar resultados no varejo de moda. Produzido pela uMode Fashion PLM, o conteúdo traz reflexões práticas sobre omnicanalidade, digitalização, governança de dados e cadeia de suprimentos — temas que considero centrais para qualquer negócio de moda que queira sobreviver (e prosperar) no ritmo acelerado do mercado atual.

Abertura do episódio com a mesa feminina da uModeCast

Índice

Por que esse debate importa: comportamento, velocidade e o novo varejo

Desde a minha transição da Intel para os magazines e depois para o e‑commerce, a pergunta que sempre me moveu foi: como transformar entendimento de comportamento em produto e, sobretudo, em vendas? O mundo mudou — e o cliente mudou — muito mais rápido do que a maioria das estruturas tradicionais estava preparada para acompanhar. No podcast, umode, moda, tecnologia eu falo exatamente disso: a moda é comportamento e, se você não acompanha o comportamento, fica para trás.

O varejo deixou de ser apenas um local físico. Hoje ele é uma combinação de pontos de contato, dados e velocidade. A conveniência que o e‑commerce oferece — a vitrine infinita, o mix and match entre marcas, a descoberta por estilo — exige das marcas uma boa dose de adaptabilidade. Não dá mais para planejar uma coleção inteira com um ano de antecedência sem ter mecanismos para testar, validar e reagir.

Resumo rápido do que vamos ver neste artigo

  • Minha jornada do físico para o digital e os aprendizados centrais.

  • O papel da leitura de dados e da qualificação de atributos de produto.

  • Modelos de negócio que testam em pequena escala e escalam com rapidez.

  • Como a cadeia de suprimentos precisa se reorganizar para esse novo fluxo.

  • Passos práticos para marcas, varejistas e fornecedores começarem hoje.

Entrada na Dafiti: início da operação de vestuário

Da Riachuelo e Marisa para Dafiti: entender o digital na prática

Minha carreira no varejo começou em magazines tradicionais e ganhou novo capítulo quando entrei na Dafiti no início da operação de vestuário. Era um mercado embrionário, mas que já prometia transformar a relação entre marca e cliente. Passar do físico para o digital não é apenas adaptar processos: é mudar o mindset. No físico, você pensa em reposição eterna de básicos; no digital, você precisa pensar em assortment, timing e atributos que aparecem na busca do cliente naquele momento.

Nessas experiências aprendi três lições fundamentais:

  1. O digital é conveniência e descoberta: o cliente hoje se inspira em redes, influenciadores e buscadores, não mais em revistas físicas.

  2. Os indicadores são diferentes: além da venda, é preciso olhar NMV, GNV, vendas pós‑cancelamento, desempenho por canal e velocidade de giro.

  3. Digitalizar uma marca é uma troca de ativos: o e‑commerce traz alcance e usabilidade, a marca traz identidade e conteúdo — trabalhar isso em parceria rende melhores resultados.

Discutindo indicadores novos no e‑commerce

Exemplo prático: de bestsellers ao mix and match

Na Dafiti, ao trabalhar o vestuário, aprendemos que era preciso digitalizar marcas sem perder sua personalidade. Muitas peças chegam descasadas no centro de distribuição (estampa sem calça correspondente, vestido sem forro), então criamos processos com marcas e fornecedores para fotografar e montar looks antes do lançamento. Essa troca de ativos — amostra + conteúdo + curadoria — aumentou conversão e ajudou a educar marcas que ainda viam o digital como "canal secundário".

Omnicanalidade: promessa e armadilhas

Quando falo de omnicanalidade, não estou falando de uma moda bonita para o relatório executivo. Estou falando da experiência concreta do cliente: ele comprou online e foi retirar na loja; chegou na loja e descobriu o pedido cancelado; ou comprou na loja e teve que pagar frete extra para receber em casa. Essas fricções corroem confiança.

Para que a omnicanalidade funcione, marca e loja precisam ter o mesmo propósito e processos alinhados. Vendedores e atendentes não são apenas executores: são embaixadores da experiência digital. O SAC precisa estar integrado. O checkout, claro, precisa ser simples. E a promessa — "retire na loja", "entrega na casa" — precisa ser cumprida sem que o cliente precise ligar para resolver.

Pequenos exemplos fazem grande diferença

Um caso que sempre cito: a cliente estava pronta para comprar, mas a loja insistiu em cobrar frete para entregar um item que poderia ser enviado sem custo se somado a outro pedido. Ela saiu sem comprar. Resultado: a marca perdeu uma venda na hora e possivelmente uma recorrência futura. Esses saltos pequenos de atrito somam e deterioram o CLV (Customer Lifetime Value).

Velocidade e dados: o segredo da Shein e do live commerce

Falando direto: players como Shein são cases de leitura de comportamento e velocidade operacional. O que muitas vezes é vendido como "mágica" é, na verdade, um pipeline de testar, comprovar e alavancar. Testar em pequena escala, coletar sinais e aumentar profundidade no que performa — esse loop é simples mas exige disciplina, tecnologia e parceiros alinhados.

Os pilares que sustentam esse modelo são:

  • Matrix de atributos: cada produto é qualificado por gola, comprimento, tecido, ocasião, preço, etc.;

  • Testes em pequena escala: produção reduzida inicial para validar o pull do cliente;

  • Capilaridade de reposição: capacidade de repetir produção rapidamente quando uma peça vira hit;

  • Dados em tempo real: visibilidade de performance para buyer e fornecedor.

Vocês ouviram no episódio: "a Shein lê comportamento o tempo inteiro". Isso quer dizer que a decisão deixa de ser tomada apenas pela intuição do comprador e passa a ser guiada por um conjunto de sinais digitais — buscas, conversões, CTR, comentários, repetição de compra — que alimentam decisões de produto e reposição.

Live commerce e públicos distintos

Live commerce cresce de forma exponencial, porém não é para todos. Eu mesmo digo: "não sou pessoa para live commerce". Ele atende um público e um comportamento específicos — geralmente mais jovem, mais imediatista e engajado em formatos ao vivo. Marcas precisam avaliar se o público delas está lá antes de investir forte. A resposta certa pode ser: "não para mim, mas para meu filho(a)".

Dados estruturados: da planilha ao RP conectado

Um dos maiores gargalos que vejo em marcas e fornecedores é a dependência do Excel. O Excel construiu esse mercado e continuará sendo útil, mas para escalar inteligência e automações é insuficiente. Dados precisam estar em bases estruturadas, tagueados por atributos, acessíveis por sistemas e por APIs.

O caminho é: transformar produto em dado. Isso inclui:

  • Ficha de produto completa e padronizada;

  • Tabela de medidas clara e consistente entre lançamentos;

  • Atributos de estilo (gola, caimento, forro, fechamento) que permitam análise de similaridade;

  • Integração RP ↔ PLM ↔ marketplace para eliminar retrabalho.

Com isso, ferramentas de IA e analytics conseguem gerar insights relevantes. Sem essa base, qualquer solução "de ponta" vira encosto: tecnologia sem processo não resolve.

Tabela de medidas: pequeno detalhe, grande impacto

A frustração de comprar um M e receber algo que veste como P é um dos maiores motivos de devolução. Padronizar tabela de medidas e comunicar vestibilidade reduz churn e devolução, aumenta confiança e fidelidade. Esse é um investimento simples que gera retorno direto no custo operacional e na experiência do cliente.

Cadeia de suprimentos: o elo que frequentemente não acompanha a velocidade

Se digital e dados são a cabeça, a cadeia é o corpo. E, muitas vezes, o corpo anda mais devagar. Fabricantes que foram estruturados para programação com meses de antecedência têm dificuldade em virar para um modelo de testes e reposição rápida. Para funcionar, é preciso que todo o ecossistema — tecelagens, aviamentos, costureiras, estamparias — entenda e participe do jogo.

Modelos que funcionam:

  • Produção em pequenas rodadas (micro lotes) para validação;

  • Buffer estratégico em matérias‑primas para reposição rápida;

  • Sistemas compartilhados onde fornecedor publica atributos e o buyer escolhe online;

  • KPIs de co‑responsabilidade: o fornecedor também olha desempenho e participa da decisão de reposição.

No episódio comentei como alguns fornecedores passaram a ter visibilidade em tempo real do desempenho de suas ofertas. Isso muda tudo: o fornecedor deixa de ser um executor cego e vira co‑autor da oferta.

Do “ano de programação” para o ciclo de micro‑lançamentos

Planejar tudo com um ano de antecedência é confortável para fábricas. Mas o cliente não quer mais essa previsibilidade. O resultado é estoque obsoleto, renegociação de prazo e capital empatado. Trabalhar com pequenas profundidades (grades reduzidas) e testar com pré‑vendas, filas de espera e relançamentos responsáveis diminui risco e melhora alocação de capital.

Governança, RH e disciplina: a transformação que dá trabalho

Mudar processos e tecnologia exige algo que não aparece em muitas apresentações: disciplina. Implementar PLM, conectar RP, capacitar times — tudo dá trabalho. E a tecnologia só funciona quando as pessoas entendem seus papéis. Aqui entra RH estratégico: business partners, treinamento contínuo e padrões de governança que garantam rotina e correções rápidas.

A necessidade de rotina, governança e práticas de RH

Sem governança, a melhor tecnologia vira encosto. Sem rotina, você não consegue medir se o que foi implementado está dando resultado. Por isso eu sempre reforço: começar pelos números e pelos KPIs. Defina o que importa (recorrência? margem? giro?) e construa indicadores que monitorem progresso.

Como começar hoje: um roteiro prático para marcas, varejistas e fornecedores

Se você leu até aqui, parabéns: já entendeu que a transformação é possível. Abaixo um roteiro prático, que compartilhei no podcast, para começar agora mesmo.

Passo 1 — Entenda seus números e defina KPIs

  • Defina propósito e persona: quem você quer atender?

  • Escolha KPIs que digam se a estratégia está funcionando (ex.: recorrência, margem, giro).

  • Pequenas rotinas semanais para checar sinais e ajustar o leme.

Passo 2 — Digitalize o básico (não tente a mágica primeiro)

  • Padronize ficha de produto e tabela de medidas.

  • Elimine retrabalho (Excel ↔ email ↔ planilha) com integrações simples RP ↔ plataforma.

  • Coloque atributos em dados estruturados para poder usar IA depois.

Passo 3 — Teste em pequena escala e aprenda rápido

  • Produza micro lotes para validação inicial.

  • Use pré‑venda e fila de espera para medir intenção real de compra.

  • Reforce processos de reposição rápida com fornecedores alinhados.

Passo 4 — Alinhe a cadeia e compartilhe resultados

  • Compartilhe performance em tempo real com fornecedores.

  • Construa contratos que incentivem reposição ágil, não apenas programação longa.

  • Incentive fornecedores a se especializar no que fazem melhor.

Passo 5 — Cultura e governança

  • Treine times e crie rotinas de governança: reuniões curtas, análise de indicadores e ações.

  • Inclua RH como parceiro do negócio, não apenas área administrativa.

  • Seja paciente: transformação dá trabalho, mas gera resultado.

A importância de o fabricante ter a estratégia em mãos

Erros comuns que vejo — e como evitá‑los

Alguns erros são recorrentes e evitáveis. Vou listar os principais com soluções práticas.

  • Esperar mágica tecnológica: solução — começar pelo arroz com feijão (dados, processos, integração).

  • Medir só vendas: solução — adotar KPIs que mostrem saúde do negócio (giro, margem, recorrência).

  • Produzir em grandes lotes sem validar: solução — micro lotes, testes, pré‑venda.

  • Fornecedores desconectados: solução — integrar sistemas e compartilhar performance.

  • Focar só no short term: solução — equilibrar apostas (core x experimentos) e documentar aprendizados.

Recursos e onde me encontrar

Se quiser ouvir o episódio completo e outros temas relacionados, procure o uModeCast — podcast, umode, moda, tecnologia — nas plataformas de áudio. Recomendo procurar por "uModeCast" ou "uMode Fashion PLM" no Spotify e no Apple Podcasts. Também deixo aqui o link para um conteúdo complementar do uMode que segue o mesmo propósito de facilitar a digitalização:

Blog uMode: https://umode.com.br/blog/umode-cast-o-impacto-da-febratex-no-mercado-t%C3%AAxtil-brasileiro

Procure o episódio do uModeCast nas plataformas de streaming: busque por "uModeCast" no Spotify e no Apple Podcasts para encontrar a lista completa de episódios.

Encerramento do episódio: convite para continuar a conversa

Conclusão: a zona de conforto não é opção

O mundo já mudou. A zona de conforto é confortável, sim, mas perigosa. Globalização, marketplaces, players internacionais e a própria mudança de comportamento do consumidor impõem velocidade e precisão. No podcast, umode, moda, tecnologia eu digo com clareza: não adianta reclamar do mercado — é preciso agir. Comece entendendo seus números, aparando pontas com processos simples, testando rápido e alinhando fornecedores. Tecnologia e IA são poderosas, mas só quando apoiadas em dados bem estruturados e em rotinas de governança.

Moda é comportamento. Se você quiser influenciar comportamento, precisa ouvir comportamento. E para ouvir, você precisa de dados, disciplina e parceria com toda a cadeia.

"Se esse cliente não estiver feliz, ele não vai bater na tua porta. Ele vai passar reto pela sua porta." — Fabiana M. Magalhães

Checklist rápido para começar hoje

  • Defina 3 KPIs claros e comece a monitorá‑los semanalmente.

  • Padronize a ficha de produto e a tabela de medidas.

  • Execute um teste com 50–200 peças para validar uma tendência.

  • Converse com seus fornecedores: alinhe pequenos lotes e prazos de repique.

  • Crie uma rotina de governança com responsáveis e frequência definida.

Se quiser continuar essa conversa, me encontre no LinkedIn como Fabiana M. Magalhães. Trocar experiências e aprender com quem está na operação é o que constrói mercado. Vamos juntos transformar dados em decisão e velocidade em resultado.

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