
Desenvolvimento Humano: Capacitação, Treinamento e Soft Skills no Futuro da Moda
A indústria da moda enfrenta transformação digital, sustentabilidade mandatória, personalização em escala e volatilidade permanente. Estes desafios não podem ser resolvidos por tecnologia isoladamente, exigem profissionais qualificados, emocionalmente inteligentes, adaptáveis e capazes de trabalhar colaborativamente em ambientes complexos.
A pesquisa Leadership Outlook 2025 do Evermonte Institute revelou que 70,3% dos executivos consideram "comunicação e escuta ativa" a soft skill mais importante nas contratações. A pesquisa também identificou que habilidades comportamentais superaram hard skills em prioridade nas estratégias de seleção de talento.
Este cenário marca uma transformação fundamental: empresas de moda agora precisam investir tão intensamente no desenvolvimento de pessoas quanto em tecnologia.
Soft Skills como Diferencial Competitivo
As soft skills, ou competências socioemocionais, representam capacidades comportamentais, emocionais e relacionais que atravessam todas as profissões. Diferem-se das hard skills (conhecimentos técnicos) por serem menos automatizáveis e mais transferíveis entre contextos.
No mercado de moda 2025, as 10 soft skills mais demandadas são:
Comunicação e escuta ativa (70,3% de menção)
Inteligência emocional (69,4%)
Resiliência e orientação a resultados (63,4%)
Agilidade (55,9%)
Pensamento crítico (54,1%)
Tomada de decisões (52,5%)
Negociação (51,2%)
Flexibilidade (45,9%)
Criatividade (37,8%)
Liderança (não especificada %)
Conforme relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro dos Empregos 2025, estas habilidades "são resistentes à automação por IA" e serão ainda mais valorizadas conforme tecnologia avança.
A Lacuna de Desenvolvimento nas Empresas de Moda
Apesar da importância reconhecida, a maioria das empresas de moda brasileiras não investem sistematicamente em desenvolvimento de soft skills. Cursos de capacitação técnica (modelagem, design, PLM) são frequentes, mas programas de desenvolvimento comportamental e emocional são raros, especialmente em pequenas e médias empresas.
Este é um erro estratégico significativo. A pesquisa CashNet USA, analisando 17 milhões de anúncios de emprego no Indeed.com, identificou que 92% das posições exigem pelo menos uma soft skill, demonstrando que estas competências são requisito universal, não diferencial.
Estratégias de Desenvolvimento Implementáveis
1. Programas de Treinamento Interno Estruturado
Empresas como Renner implementaram programas formativos sobre agilidade de negócios, desenvolvimento de liderança e comunicação assertiva. O ROI é tangível: times que recebem treinamento em soft skills apresentam até 25% maior produtividade.
Estrutura recomendada:
Treinamentos presenciais de 4-8 horas sobre comunicação, liderança, inteligência emocional
Workshops colaborativos onde equipes trabalham em projetos reais desenvolvendo soft skills simultaneamente
Mentoring de líderes mais experientes com profissionais em desenvolvimento
Feedback estruturado regular permitindo autorreflexão e ajustes comportamentais
2. Educação Formal e Qualificação Profissional
Instituições como SENAI, Senac e Faculdades Santa Marcelina oferecem cursos técnicos e superiores que integram desenvolvimento de soft skills. Estes programas cobrem desde desenho técnico até gestão estratégica, sempre integrando habilidades comportamentais.
A co.liga, programa de educação criativa da Fundação Roberto Marinho, lançou cursos gratuitos online sobre moda, inclusão de diversidade e empreendedorismo, democratizando acesso ao desenvolvimento. Este tipo de inciativa reduz o gap de qualificação em segmentos com menor acesso tradicional à educação formal.
3. Desenvolvimento de Liderança Adaptativa
Para executivos e gestores de moda, programas específicos de liderança devem focar em:
Design thinking para resolução criativa de problemas
Gestão de equipes remotas e distribuídas
Inteligência emocional avançada para liderança em ambientes de incerteza
Agilidade estratégica combinando flexibilidade com foco em metas
Zara demonstra impacto: sua estrutura de Product Owners, que combina decisão distribuída com alinhamento central, requer líderes com nível muito elevado de confiança interpessoal, comunicação assertiva e pensamento sistêmico.
Framework de Gestão de Design com Foco em Desenvolvimento
A pesquisa acadêmica brasileira desenvolveu framework específico de desenvolvimento de competências individuais, coletivas e organizacionais para profissionais de design na moda. Este modelo, aplicável em empresas, integra:
Competências Individuais:
Domínio técnico (modelagem, desenho, processos)
Conhecimento de mercado e tendências
Comunicação clara e documentação
Competências Coletivas:
Colaboração multidisciplinar
Gestão de conflitos e consenso
Aprendizado compartilhado
Competências Organizacionais:
Sistemas e processos que facilitam desenvolvimento
Cultura de inovação e experimentação
Continuidade de conhecimento
Este framework oferece estrutura completa para desenvolvimento humano alinhado com necessidades operacionais reais.
Transformação Digital e Novas Demandas de Competências
A transformação digital na moda criou novas categorias de profissionais que precisam combinar conhecimento técnico tradicional com competências digitais. O estudo Digital Fashion Academy 2025 identifica competências mais demandadas:
Competências Híbridas Necessárias:
Designers que entendem CRM, ecommerce e analytics
Compradores que falam linguagem de dados e IA
Gerentes de produto que entendem sustentabilidade e tecnologia
Vendedores que combinam consultoria com domínio de plataformas
Nota significativa: Comunicação clara entre equipes técnicas e criativas tornou-se competência crítica, não complementar.
Tendências para 2025 e Além
Aprendizado Contínuo Mandatório: Com IA transformando landscape de habilidades, desenvolvimento contínuo deixa de ser recomendação para ser pré-requisito. Empresas implementarão "learning budgets" por colaborador, similar a benefícios tradicionais.
Personalização de Desenvolvimento: Plataformas de learning utilizam IA para criar caminhos personalizados de desenvolvimento baseado em avaliação de competências individual.
Desenvolvimento Colaborativo: Metodologias ágeis integram aprendizado no dia-a-dia de trabalho, não como atividade separada. Retrospectivas ágeis funcionam simultaneamente como espaço de feedback e desenvolvimento.
Inclusão e Diversidade: Programas como co.liga focam em trazer diversidade para setor de moda, reconhecendo que desenvolvimento humano inclui acesso equitativo a oportunidades.
Conclusão: O Fator Humano Como Determinante Estratégico
A indústria da moda em 2025 enfrenta desafios que exigem muito mais que algoritmos, máquinas ou capital. Exigem profissionais desenvolvidos, resilientes, colaborativos e criativos.
O relatório Leadership Outlook 2025 é explícito: empresas que priorizam desenvolvimento humano de seus colaboradores estão melhor equipadas para navegar transformações, capturar oportunidades e manter competitividade.
Para executivos de moda, a mensagem é clara: investimento em desenvolvimento humano — através de programas de soft skills, treinamento estruturado, educação contínua e liderança adaptativa — não é benefício adicional, mas alicerce estratégico para sucesso organizacional em era de incerteza permanente.
O case Reserva demonstra que este investimento traduz-se diretamente em resultados operacionais mensuráveis. Para CEOs, planejadores e estilistas que buscam crescimento sustentável, foco no desenvolvimento de pessoas é onde a diferenciação real ocorre.