Desenvolvimento Humano: Capacitação, Treinamento e Soft Skills no Futuro da Moda

Desenvolvimento Humano: Capacitação, Treinamento e Soft Skills no Futuro da Moda

October 30, 20255 min read

A indústria da moda enfrenta transformação digital, sustentabilidade mandatória, personalização em escala e volatilidade permanente. Estes desafios não podem ser resolvidos por tecnologia isoladamente, exigem profissionais qualificados, emocionalmente inteligentes, adaptáveis e capazes de trabalhar colaborativamente em ambientes complexos.​

A pesquisa Leadership Outlook 2025 do Evermonte Institute revelou que 70,3% dos executivos consideram "comunicação e escuta ativa" a soft skill mais importante nas contratações. A pesquisa também identificou que habilidades comportamentais superaram hard skills em prioridade nas estratégias de seleção de talento.​

Este cenário marca uma transformação fundamental: empresas de moda agora precisam investir tão intensamente no desenvolvimento de pessoas quanto em tecnologia.

Soft Skills como Diferencial Competitivo

As soft skills, ou competências socioemocionais, representam capacidades comportamentais, emocionais e relacionais que atravessam todas as profissões. Diferem-se das hard skills (conhecimentos técnicos) por serem menos automatizáveis e mais transferíveis entre contextos.​

No mercado de moda 2025, as 10 soft skills mais demandadas são:​

  1. Comunicação e escuta ativa (70,3% de menção)

  2. Inteligência emocional (69,4%)

  3. Resiliência e orientação a resultados (63,4%)

  4. Agilidade (55,9%)

  5. Pensamento crítico (54,1%)

  6. Tomada de decisões (52,5%)

  7. Negociação (51,2%)

  8. Flexibilidade (45,9%)

  9. Criatividade (37,8%)

  10. Liderança (não especificada %)

Conforme relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro dos Empregos 2025, estas habilidades "são resistentes à automação por IA" e serão ainda mais valorizadas conforme tecnologia avança.​

A Lacuna de Desenvolvimento nas Empresas de Moda

Apesar da importância reconhecida, a maioria das empresas de moda brasileiras não investem sistematicamente em desenvolvimento de soft skills. Cursos de capacitação técnica (modelagem, design, PLM) são frequentes, mas programas de desenvolvimento comportamental e emocional são raros, especialmente em pequenas e médias empresas.​

Este é um erro estratégico significativo. A pesquisa CashNet USA, analisando 17 milhões de anúncios de emprego no Indeed.com, identificou que 92% das posições exigem pelo menos uma soft skill, demonstrando que estas competências são requisito universal, não diferencial.​

Estratégias de Desenvolvimento Implementáveis

1. Programas de Treinamento Interno Estruturado

Empresas como Renner implementaram programas formativos sobre agilidade de negócios, desenvolvimento de liderança e comunicação assertiva. O ROI é tangível: times que recebem treinamento em soft skills apresentam até 25% maior produtividade.​

Estrutura recomendada:

  • Treinamentos presenciais de 4-8 horas sobre comunicação, liderança, inteligência emocional

  • Workshops colaborativos onde equipes trabalham em projetos reais desenvolvendo soft skills simultaneamente

  • Mentoring de líderes mais experientes com profissionais em desenvolvimento

  • Feedback estruturado regular permitindo autorreflexão e ajustes comportamentais​

2. Educação Formal e Qualificação Profissional

Instituições como SENAI, Senac e Faculdades Santa Marcelina oferecem cursos técnicos e superiores que integram desenvolvimento de soft skills. Estes programas cobrem desde desenho técnico até gestão estratégica, sempre integrando habilidades comportamentais.​

A co.liga, programa de educação criativa da Fundação Roberto Marinho, lançou cursos gratuitos online sobre moda, inclusão de diversidade e empreendedorismo, democratizando acesso ao desenvolvimento. Este tipo de inciativa reduz o gap de qualificação em segmentos com menor acesso tradicional à educação formal.​

3. Desenvolvimento de Liderança Adaptativa

Para executivos e gestores de moda, programas específicos de liderança devem focar em:​

  • Design thinking para resolução criativa de problemas

  • Gestão de equipes remotas e distribuídas

  • Inteligência emocional avançada para liderança em ambientes de incerteza

  • Agilidade estratégica combinando flexibilidade com foco em metas

Zara demonstra impacto: sua estrutura de Product Owners, que combina decisão distribuída com alinhamento central, requer líderes com nível muito elevado de confiança interpessoal, comunicação assertiva e pensamento sistêmico.​

Framework de Gestão de Design com Foco em Desenvolvimento

A pesquisa acadêmica brasileira desenvolveu framework específico de desenvolvimento de competências individuais, coletivas e organizacionais para profissionais de design na moda. Este modelo, aplicável em empresas, integra:​

Competências Individuais:

  • Domínio técnico (modelagem, desenho, processos)

  • Conhecimento de mercado e tendências

  • Comunicação clara e documentação

Competências Coletivas:

  • Colaboração multidisciplinar

  • Gestão de conflitos e consenso

  • Aprendizado compartilhado

Competências Organizacionais:

  • Sistemas e processos que facilitam desenvolvimento

  • Cultura de inovação e experimentação

  • Continuidade de conhecimento​

Este framework oferece estrutura completa para desenvolvimento humano alinhado com necessidades operacionais reais.​

Transformação Digital e Novas Demandas de Competências

A transformação digital na moda criou novas categorias de profissionais que precisam combinar conhecimento técnico tradicional com competências digitais. O estudo Digital Fashion Academy 2025 identifica competências mais demandadas:​

Competências Híbridas Necessárias:

  • Designers que entendem CRM, ecommerce e analytics

  • Compradores que falam linguagem de dados e IA

  • Gerentes de produto que entendem sustentabilidade e tecnologia

  • Vendedores que combinam consultoria com domínio de plataformas​

Nota significativa: Comunicação clara entre equipes técnicas e criativas tornou-se competência crítica, não complementar.​

Tendências para 2025 e Além

Aprendizado Contínuo Mandatório: Com IA transformando landscape de habilidades, desenvolvimento contínuo deixa de ser recomendação para ser pré-requisito. Empresas implementarão "learning budgets" por colaborador, similar a benefícios tradicionais.​

Personalização de Desenvolvimento: Plataformas de learning utilizam IA para criar caminhos personalizados de desenvolvimento baseado em avaliação de competências individual.​

Desenvolvimento Colaborativo: Metodologias ágeis integram aprendizado no dia-a-dia de trabalho, não como atividade separada. Retrospectivas ágeis funcionam simultaneamente como espaço de feedback e desenvolvimento.​

Inclusão e Diversidade: Programas como co.liga focam em trazer diversidade para setor de moda, reconhecendo que desenvolvimento humano inclui acesso equitativo a oportunidades.​

Conclusão: O Fator Humano Como Determinante Estratégico

A indústria da moda em 2025 enfrenta desafios que exigem muito mais que algoritmos, máquinas ou capital. Exigem profissionais desenvolvidos, resilientes, colaborativos e criativos.​

O relatório Leadership Outlook 2025 é explícito: empresas que priorizam desenvolvimento humano de seus colaboradores estão melhor equipadas para navegar transformações, capturar oportunidades e manter competitividade.​

Para executivos de moda, a mensagem é clara: investimento em desenvolvimento humano — através de programas de soft skills, treinamento estruturado, educação contínua e liderança adaptativa — não é benefício adicional, mas alicerce estratégico para sucesso organizacional em era de incerteza permanente.

O case Reserva demonstra que este investimento traduz-se diretamente em resultados operacionais mensuráveis. Para CEOs, planejadores e estilistas que buscam crescimento sustentável, foco no desenvolvimento de pessoas é onde a diferenciação real ocorre.


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