10 Forças que Vão Separar Vencedores e Perdedores na Moda em 2026

10 Forças que Vão Separar Vencedores e Perdedores na Moda em 2026

November 20, 20256 min read

As regras do jogo mudaram de vez. Tarifa, tecnologia e comportamento de consumo deixaram de ser “tendências” e viraram chão do negócio. Para quem lidera empresas de moda, isso não é motivo para pânico, é mapa de oportunidade.

1. Turbulência é o novo normal – e quem ganha é quem se mexe rápido

O relatório State of Fashion 2026 mostra um humor mais pesado entre os executivos: 46% esperam que as condições da indústria piorem em 2026, contra 39% no ano passado. Tarifa aparece como risco número 1, e 76% dos líderes dizem que responder a disputas comerciais e tarifas será o tema central do ano. O cenário de crescimento é modesto, com a moda global projetada para crescer só em baixa casa de dígitos.

Ao mesmo tempo, surgem “ilhas de oportunidade”: o mid-market passa a ser o segmento que mais cria valor, substituindo o luxo nesse papel, à medida que consumidores buscam mais “valor pelo dinheiro”.

Tradução prática:

  • O mercado como um todo cresce pouco.

  • Mas há espaço para quem consegue tomar share, reposicionar marca e responder rápido a preço, canais e categorias.

2. Tarifa e cadeia de fornecimento: ameaça para uns, atalho para outros

O documento traz tópicos sobre a “Tariff Turbulence”: tarifas dos EUA estão redesenhando o mapa de comércio, encarecendo a cadeia inteira e apertando especialmente quem depende de poucos países fornecedores. Marcas estão:

  • reajustando preços,

  • mudando origem de produção,

  • investindo em eficiência, digitalização e automação.

Para empresas de moda (inclusive brasileiras), isso abre três frentes de oportunidade:

  1. Rever o mix de fornecedores

Diversificar países e tipos de parceiros, equilibrando custo, prazo e risco. Quem conseguir entregar lead time curto + qualidade consistente vira parceiro preferencial global.

  1. Usar tecnologia para planejar melhor

MRP, PLM, previsões com IA, simulação de cenários de tarifa e câmbio, tudo isso deixa de ser luxo e vira ferramenta de sobrevivência.

  1. Reprecificar com narrativa

Se o custo sobe, o cliente precisa entender o porquê e ver mais valor. Isso exige produto melhor, storytelling mais forte e experiência de loja reforçada.

Em resumo: tarifa é um problema para quem continua comprando e vendendo da mesma forma. Para quem redesenha a cadeia, vira chance de se posicionar como fornecedor ágil em um mundo caro e confuso.

3. IA: de diferencial a infraestrutura invisível da moda

No relatório, os executivos apontam a inteligência artificial como a maior oportunidade da indústria em 2026, superando diferenciação de produto e até sustentabilidade como prioridade declarada.

A McKinsey mostra que a IA já está sendo usada em:

  • atendimento online,

  • criação de imagens,

  • textos de produto,

  • busca e descoberta, e que marketing e vendas são as áreas com maior potencial de ganho de produtividade.

Dois movimentos são chave:

a) A “IA Shopper”: SEO agora tem versão para robô

Clientes já usam grandes modelos de linguagem para perguntar o que comprar e onde comprar. A BoF/McKinsey fala da IA como novo “consultor de guarda-roupa” e avisa: responder bem nesses chats será o novo SEO.

O que isso exige de você:

  • fichas de produto com dados ricos (tecido, caimento, ocasião, estilo, clima, corpo),

  • imagens de qualidade,

  • estrutura de e-commerce e APIs que permitam que IAs “leiam” seu catálogo.

Se a IA não entende seu produto, ela não recomenda sua marca.

b) IA dentro da operação, não só na vitrine

Além da parte “sexy” (imagem e texto), há oportunidade gigantesca em bastidores:

  • previsão de demanda,

  • compra e reposição mais precisas,

  • sortimento por loja,

  • precificação dinâmica e promo mais cirúrgica,

  • detecção de ruptura e excesso de estoque.

Num cenário de baixa margem e pressão de custo, ganhar alguns pontos de eficiência com IA pode ser a diferença entre crescer ou só sobreviver.

4. Novos desejos do cliente: valor, bem-estar, joias e tecnologia usável

O relatório mostra que o consumidor está mais sensível a preço, mas não abriu mão de se sentir especial. Por isso:

  • mid-market bem desenhado cresce mais que o luxo,

  • joalheria se torna a categoria de moda que mais cresce em unidades, com ritmo quase quatro vezes maior que o da roupa, apoiada na ideia de “investimento duradouro” e autoexpressão,

  • e óculos inteligentes (smart frames) despontam como acessório em alta, com previsão de mercado acima de US$ 30 bilhões até 2030.

Além disso, o relatório destaca a “Era do Bem-Estar”:

  • 84% dos consumidores dos EUA e 94% dos chineses dizem que wellness é prioridade importante no dia a dia.

Para o mercado de moda, isso abre pistas claras:

  • Joias como extensão da marca: Mesmo marcas originalmente de vestuário podem criar cápsulas de joias (ou parcerias) para capturar essa demanda por “peças-investimento”.

  • Moda + tecnologia: Óculos inteligentes, wearables e collabs com empresas de tech criam novas portas de entrada para clientes jovens e conectados.

  • Bem-estar como contexto de consumo: Academias, estúdios, hubs culturais, lojas que funcionam como “terceiro espaço” onde a pessoa treina, convive, consome conteúdo e, naturalmente, compra.

Quem enxergar a marca não só como roupa, mas como plataforma de estilo + bem-estar + autoexpressão, navega melhor esse novo consumidor.

5. Resale, elevação e o luxo em recalibração

Outro ponto forte do relatório é o “Resale Sprint”:

  • o mercado de segunda mão deve crescer de duas a três vezes mais rápido do que o de primeira mão até 2027;

  • dados indicam que resale não canibaliza necessariamente o novo, mas ajuda o cliente a conhecer marcas aspiracionais.

Oportunidades óbvias para quem lidera marcas:

  • criar seu próprio canal de recommerce,

  • programas de recompra na loja,

  • curadoria de peças usadas com certificação e experiência premium.

Ao mesmo tempo, a “Elevation Game” ganha força: marcas de valor e até de entrada estão subindo o nível para se afastar das ultrabaratas e capturar o ex-consumidor de luxo que foi espremido pelos preços mais altos.

E o próprio luxo está em “Luxury Recalibrated”:

  • menos crescimento via aumento de preço,

  • mais foco em criatividade, qualidade e serviço de alto nível,

  • necessidade de recompor confiança do cliente.

Para o executivo de moda, o recado é simples:

2026 não é ano de ser “mais do mesmo no meio do caminho”. Você precisa escolher se vai elevar a proposta de valor (produto e experiência) ou competir puramente em preço, o meio-termo tende a sofrer.

6. Como transformar o relatório em agenda prática para 2026

Se a gente juntar tudo, o State of Fashion 2026 aponta para três movimentos estratégicos para quem está no comando:

  1. Blindar a base

    • Diversificar fornecedores e cadeias para mitigar tarifa e risco.

    • Ganhar eficiência com tecnologia e IA para liberar caixa e fôlego.

  2. Reconfigurar a proposta de valor

    • Ajustar mix de produto para capturar o cliente de mid-market que busca qualidade, design e preço justo.

    • Testar novas categorias (joias, acessórios tech, collabs) ligadas a bem-estar e autoexpressão.

    • Elevar experiência de loja física e digital como diferencial.

  3. Reposicionar a marca diante da IA e da nova jornada de compra

    • Garantir que seu catálogo “converse” bem com IAs (dados, imagens, APIs).

    • Usar IA também por dentro, na operação, e não só na comunicação.

    • Definir se você vai entrar em resale e como isso reforça percepção de valor.

O relatório fecha dizendo que 2026 será mais um ano de descontinuidade, mas também um ano em que as regras estão em aberto.

Para quem lidera negócios de moda, essa é talvez a melhor notícia: se o jogo mudou, não ganha quem tem mais história, ganha quem tem mais capacidade de ler o momento, ajustar rápido e entregar valor real para um consumidor mais exigente, mais digital e, ao mesmo tempo, mais humano.

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